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Em uma época em que tudo era produzido em escala por máquinas que surgiram durante a Revolução Industrial, Jelka foi uma professora croata da região litorânea de Konavle que se preocupou com o comércio de peças folclóricas que eram adquiridas por valores irrisórios e revendidas pela Europa Ocidental com preços de obra de arte.
Isso aconteceu no século XIX, onde as necessidades básicas têxteis eram supridas pelos avanços tecnológicos do momento, encontrado nas grandes cidades, as roupas e peças de decoração não tinham mais as características do trabalho manual de séculos passados.

Era comum nesse momento encontrar peças feitas em crochê, tricô e com bordados somente nas áreas rurais e nos povoados mais pobres aonde o progresso não chegava.
Dessa forma os padrões utilizados na fabricação de produtos industriais foram inspirados em motivos rurais. Uma visão da riqueza do artesanato local em toda a Europa colocou em destaque as comunidades que preservaram as suas respectivas tradições artesanais devido ao fato de estarem localizadas longe das áreas metropolitanas.
Jelka Miš, percebeu que se esse movimento de retirar as peças folclóricas do país de origem continuasse o resultado seria muito prejudicial a história e memória da arte têxtil croata pois se as futuras gerações de habitantes locais não estivessem familiarizadas com o trabalho manual da sua região natal perderiam sua ligação com a ancestralidade.
Um fato curioso que ocorreu no século XIX, foi que o artesanato passou a fazer parte do currículo de aulas como matéria o interesse pelos têxteis também se tornou um aspecto importante da educação.
Além de ensinar sobre bordado a ideia também era difundir conhecimento e técnicas artesanais.
Jelka não era somente professora, ela teve um papel de pesquisa e de conservação dos têxteis que conseguiu reunir de várias partes da Croácia dos Balcãs – norte da Croácia, Bósnia, Herzegovina, Sérvia, Kosovo e Macedónia. Considerando a riqueza de trajes folclóricos e de artesanato das áreas acima mencionadas, os seus livros de amostras passaram a representar uma verdadeira enciclopédia de técnicas de bordado.

Apoiada por Salomon Berger, um industrial e comerciante têxtil croata da época, que temia que a importação de padrões prontos levasse à internacionalização do bordado, resultando assim na perda das formas e técnicas tradicionais croatas, eles acreditavam ser necessário encorajar “os ricos a usarem padrões folclóricos regionais na decoração das suas casas ”.
A produção de tais itens exigia amostras e uma artesã habilidosa que pudesse projetá-los. Os padrões retirados dos trajes folclóricos originais foram moldados conforme exigido pelos designs das vestimentas. Eles tiveram que ser adaptados e redesenhados para posterior uso e produção de itens de alto valor.
A única preocupação importante era encaixar o padrão no novo item, ou seja, redesenhá-lo de forma que mantivesse todas as características básicas.

Além da sua competência técnica e conhecimento das técnicas de bordado, Jelka Miš era muito criativa o que permitiu criar novos padrões personalizados e combiná-los em valiosos objetos de uso diário ou peças de vestuário. Ela admirava os motivos folclóricos, mas irritava-se com a facilidade com que as camponesas cometiam erros no bordado. Com pontos pequenos, os erros de bordado de linha contados eram insignificantes a olho nu. Porém, tanto o processo de redesenho quanto o processo de confecção de itens práticos exigiam desempenho de máxima qualidade da bordadeira. Portanto, as amostras de Jelka Miš são impecáveis em termos de capricho e técnica devido às suas correções. Como tal, as suas amostras não fornecem uma visão adequada da relação das bordadeiras com as suas roupas.

Sob sua supervisão, as associações de bordados produziam toalhas de mesa, conjuntos diversos, almofadas decorativas, carteiras, sobrecapas, estojos de agulhas, marcadores de página e até vestidos infantis. Todas estas peças foram decoradas utilizando algumas das técnicas de uma área geográfica mais ampla. O seu elevado valor estético permitiu promover o traje folclórico da forma mais ampla e possibilitou a preservação dos padrões tradicionais mesmo depois de os trajes folclóricos já não serem usados nas respetivas zonas de origem. Atualmente as mulheres Konavle continuam bordando para decoração de casa, para necessidades pessoais e para gerar renda adicional por meio do turismo.
Crédito das imagens: Museu Etnológico de Dubrovnick