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Vocês se conhecem em que momento? Alguém de vocês teve influência sobre as outras para praticar o fazer manual?
Ana Paula: Em meados de 2019 apresentei a técnica do Bordado Livre para um grupo de amigas e passamos a nos reunir aos sábados, para bordar. Em 2020 viramos Coletivo. Minha influencia para todo trabalho manual que pratico sempre foi minha irmã Samira, que junto comigo sempre se empolgou com todo os artesanatos.
Samira: Eu e a bordadeira Ana Paula somos irmãs. Ela apresentou a técnica do Bordado Livre para um grupo de amigas (Ana Carolina e a Thayna, dentre outras), que formaram o Coletivo no ano 2020. Minha
entrada no grupo só ocorreu alguns meses depois.
Ana Carolina: Fiz parte do grupo de amigas que se reunia para bordar e logo em seguida criamos o Coletivo que hoje trabalhamos. A influência inicial foi da bordadeira Ana Paula e depois, juntas, nos aprofundamos na técnica com muita prática e estudo.
Thayna: Eu fazia parte do grupo de amigas que se reuniu pra aprender bordado com a Ana Paula, a partir disso fomos praticando até surgir a ideia de criar o Entrelinhas para expor as peças que estávamos
bordando.
Como o bordado chegou na vida de vocês? Além do bordado quais outras artes têxteis vocês produzem?
Ana Paula: Conheci o bordado em 2018 através da empolgação da minha irmã Samira, que viu na internet e chegou em casa com os materiais que ela achava que seriam de bordar. Juntas começamos de forma totalmente empírica e só posteriormente é que fomos nos aprimorando, buscando vídeos na internet para dar nome aos pontos que fazíamos. Além do bordado faço origami, macramê, aquarela, feltragem.
Samira: Conheci o bordado livre por acaso, na internet. Aprendi a bordar vendo tutoriais. Ana Paula e eu temos outra loja on line de macramê. Além disso também sei outros tipos de bordado e crochê, mas esses não produzo para comercialização.
Ana Carolina: O bordado foi me apresentado na infância pela minha avó, o bordado em Ponto Cruz.
Aprendi com minha mãe o básico de crochê e o básico de tapeçaria. Hoje, a partir do Bordado Livre também pratico a aquarela em tecido e o Bordado Livre em papel.
Thayna: O bordado chegou através da experiência coletiva com Ana Paula, Ana Carolina e outras amigas que faziam parte do coletivo inicialmente. Junto ao bordado também fazemos aquarela em tecido, esta última está presente em diversas peças produzidas pelo coletivo.

A ideia de formar um coletivo surge em qual momento do trabalho de vocês?
Ana Paula: Essa ideia nos chegou a partir dos nossos encontros de sábado. Foi a bordadeira Aninha (que hoje não está mais no coletivo) que tem formação em Ciências Sociais quem primeiro nos trouxe a ideia
do coletivo e juntas fomos amadurecendo esse projeto.
Samira: Entrei no Coletivo quando já estava bem consolidado, mas sei que surgiu de forma despretensiosa, já que o grupo de amigas se reuniam para ler e bordar e conversar. A ideia de criar o Instagram veio para mostrar os bordados.
Ana Carolina: O Coletivo foi se formando de maneira orgânica e aos poucos, primeiro veio a conclusão das primeiras peças dos encontros entre amigas, depois veio a ideia de escolher um nome para o grupo e
sob muita empolgação decidimos criar um Instagram para expor e vender nossas obras.
Thayna: O coletivo surgiu bem antes do trabalho, tivemos a ideia de nos reunir semanal ou quinzenalmente para confraternizar e aprender um pouco de bordado. No início da pandemia, devido impossibilidade de nos encontrarmos pessoalmente, decidimos fazer o Instagram para compartilharmos as peças que estávamos fazendo. A partir disso, foram chegando seguidores que gostavam de acompanhar as postagens e logo em seguida começou a surgir pedidos. Só a partir daí começamos a ver a possibilidade de vender as peças, inicialmente de forma muito pessoal e intuitiva, sem a profissionalização que existe hoje.
Como funciona a divisão do trabalho, todas bordam, administram? As diferenças de opiniões como
são solucionadas?
Ana Paula: Todas as decisões do coletivo são tomadas conjuntamente. Contudo, cada bordadeira tem autonomia de escolher seu volume de trabalho, quais e quantos bordados quer fazer, quais e quantas encomendas quer atender, quanto do seu tempo quer dedicar ao trabalho diariamente, quantos dias quer folgar (com relação a produção em si). O que dividimos de forma igualitária são as decisões e os atendimentos do Instagram. As divergências tão tratadas da forma possível. Muitas vezes alguém cedendo numa opinião em prol do bem do coletivo.
Samira: Sim, todas bordam e administram. Para as encomendas, seguimos uma “fila”. Para cuidar do Instagram e responder os clientes também fazemos de forma igualitária. As decisões são tomadas de
acordo com a maioria das opiniões.
Thayna: Sim, todas as decisões que concernem a marca, ao Instagram e as questões profissionais são decididas de forma coletiva. Todas bordam e cuidam do Instagram de forma rotativa.
Ana Carolina: A administração do Coletivo se dá de maneira coletiva também, normalmente entramos em um consenso quando as opiniões divergem e chegamos a uma decisão comum em prol do bem
coletivo. Em relação a divisão do trabalho, dividimos os atendimentos e as postagens do Instagram através de um calendário de revezamento. Todas bordam. No entanto, hoje não bordamos mais juntas presencialmente, cada uma borda da sua casa de acordo com sua demanda escolhida e vende suas peças na vitrine do Instagram que compartilhamos.
O que vocês acham que falta para o bordado ser mais reconhecido como Arte?
Ana Paula: O bordado de hoje já está sendo visto de forma diferente, já ganhou um novo conceito.
Antigamente era visto como uma prática de senhorinhas e voltado para as prendas domésticas. Hoje muitas pessoas jovens tem transformado o bordado em uma atividade terapêutica, uma ferramenta de protesto político e social e isso muda a forma com que o bordado é percebido, especialmente com a ajuda das redes sociais, que contribuíram para a popularização disso.
Samira: Eu acho que já é reconhecido, o que falta é as pessoas valorizarem melhor o que é feito à mão, mais isso já está sendo conquistado, aos pouquinhos.
Ana Carolina: Historicamente muitas artes são mais reconhecidas que outras devido a investimentos midiáticos, comerciais e de educação básica que proporciona uma maior divulgação e conhecimento.
Então, o bordado, hoje possui muito destaque e reconhecimento, mas poderia ser ainda mais vasto e reconhecido tendo em vista o seu grande potencial.
Thayna: Sobretudo nos últimos 4 anos, pós pandemia, o Bordado Livre ganhou uma enorme visibilidade.
Hoje o Bordado Livre está cada vez mais consolidado, reconhecido e valorizado estética e economicamente. Sabemos que o bordado é uma arte milenar que perpassa uma estrutura social demarcada por gênero e que, devido a isso, por muito tempo ocupou um lugar de menor reconhecimento. Atualmente acredito que temos conseguido quebrar muitos desses paradigmas.
Sabemos que é uma construção constante e lenta, cada vez mais o artesanato está sendo compreendido como arte pela sociedade. Acredito que é um reconhecimento que tem que partir inicialmente dos próprios artesãos, precisamos reivindicar e reafirmar os conceitos que acreditamos e buscar a consolidação disso através do nosso trabalho, de preços justos, de um posicionamento artístico expressivo.

Em qual momento do dia vocês bordam?
Ana Paula: Sou um pouco workaholic, bordo o dia inteiro. Manhã, tarde, noite, finais de semana e feriados também. É algo que eu amo de paixão e eu confesso não ter muito limite nas minhas paixões, rsrs. A meta do ano novo é tentar me segurar mais e me dar tempo para outras atividades além de bordar.
Samira: Horário comercial. Às vezes extendo para a noite e finais de semana.
Ana Carolina: Geralmente em horário comercial de segunda a sábado, mas flexível de acordo com a demanda e organização adaptável.
Thayna: Geralmente em horário comercial, mas sou flexível em relação aos horários, costumo adaptar de acordo com as outras responsabilidades cotidianas.
Quais são as influências para o desenvolvimento do trabalho de vocês?
Ana Paula: Considero que todos os tipos de arte que consumo tem influência na arte que produzo.
Absorvo de tudo: música, filme, livro, quotidiano… Tudo reverbera em mim e quando o cliente trás a demanda e coloco tudo isso pra fora, em forma de bordado. Não tem como apontar apenas influencia X ou Y quando na verdade minha arte é um reflexo de mim e de tudo que me forma.
Samira: Como grande parte dos bordados são personalizados, respeitamos e traduzimos as intenções dos clientes.
Ana Carolina: Além da influência de mercado que nos chega diariamente com pedidos clássicos de porta alianças, porta maternidade também sobra espaço para mergulhar e admirar grandes artistas têxteis que
acompanho e admiro. Influenciam também as influências artísticas que consumo como o exemplo da literatura, pois já bordei alguns poemas e autores que gosto muito.
Thayna: Nossa principal influência é o que chega até nós através da demanda dos clientes, o que é muito desenhado a partir do que está em alta no mercado. Atualmente os principais pedidos são de porta
alianças, porta maternidade e bordados a partir de fotografia.
Quais foram os principais desafios que vocês vivenciaram ao longo da experiência com o bordado?
Ana Paula: A adaptação de trabalhar de casa, de estabelecer meu próprio ritmo, minha organização, de direcionar minha energia para esse trabalho, de passar a encarar como profissão e não mais como
hobby. Mas todo esse processo vivido com prazer e leveza, porque passei tempo demais em trabalhos que eu não queria para entender e saber reconhecer esse trabalho que eu realmente amo e pelo qual valia a pena me dedicar. Ter passado por experiências profissionais ruins antes do bordado faz com que eu saiba exatamente ‘o lugar para o qual eu não quero voltar’ e faz com que diariamente eu me dedique com muita paixão ao oficio de bordadeira.
Samira: A parte de Correios e transportes, principalmente fretes caros, para que nosso produto chegasse a outros estados se provaram complicadas no começo. Demoramos para conhecer opções de fretes mais
acessíveis.
Ana Carolina: A profissionalização artística trouxe muitos desafios principalmente por ser um trabalho autônomo. Dentre eles a logística de envio demandar fretes caros e a dinâmica de ter que se dividir e estudar além do bordado mas também sobre fotografia, marketing, vendas e como as redes operam para melhor divulgarmos nosso trabalho.
Thayna: A profissionalização como um todo trouxe vários desafios, porque inicialmente não tínhamos essa intenção, então cada passo que demos foi a partir da necessidade que estava surgindo. Envios com valores muito altos, alcançar um parâmetro de precificação justa, posicionamento da marca acho que foram alguns dos principais desafios que enfrentamos.
Onde vocês buscam inspiração?
Ana Paula: Na vida, nas artes em geral, na poesia, no quotidiano, na beleza do que é” belo” e especialmente no prazer que me pego sentindo no exato momento em que a linha atravessa o tecido e eu percebo que não há outro lugar onde eu quisesse estar ou não haveria outra coisa mais gostosa que eu pudesse estar fazendo do que ali, bordando, criando. Me inspiro no prazer que sinto.
Samira: Sempre procuro inspirações na internet. Mas a maioria das ideias são do próprio cliente.
Ana Carolina: As inspirações são infinitas, desde a cultura regional da nossa região que é riquíssima a literatura, a poesia, a música e as artes diversas que me amparam e me conduzem a produzir o que de melhor consigo traduzir. Das inspirações externas tenho a sorte de ser contemporânea de grandes artistas têxteis que acompanho na internet e consumo seus conteúdos e obras postadas, desde as mais simples e locais as mais famosas e reconhecidas.
Thayna: Desde o começo me inspiro em muitas bordadeiras que gosto de acompanhar o trabalho. As meninas do Clube do Bordado, Fer e Sassa da Eulalia Bordado Manual, Arruba Bordados, Priscila do Bordando as Veras, entre outras.
O que não pode faltar na caixa de bordado?
Ana Paula: Agulha, tecido, linha, amor, vontade, entrega e tesão.
Samira: Uma variedade de cores de linhas, pois nunca sabemos até onde vai a preferência de nossos clientes.
Ana Carolina: Os materiais básicos como agulha, linha, tesoura e tecido. Acrescento também, fora da caixa, boa luminosidade e uma cadeira e mesa confortáveis já que cada bordado leva horas para ser feito e demanda muito tempo sentada. Além disso, muita criatividade.
Thayna: Linhas, agulhas, tesouras e muita criatividade.
Qual conselho vocês dariam para uma novata?
Ana Paula: Acredite no bordado como uma ferramenta de transformação! Existe uma possibilidade de carreira profissional linda através do bordado, capaz de ter proporcionar muita satisfação, orgulho e realização! A arte é capaz de tudo! Abraça ela e vai!
Samira: Não se preocupe inicialmente com o perfeccionismo. Mantenha o foco de entregar o seu melhor.
Cada cliente é único, assim como cada trabalho também. Faça tudo com amor e dedicação, que o resultado vem.
Ana Carolina: Se especializar em alguma área específica do bordado e seguir produzindo, estudando e criando.
Thayna: Conhecer as diversas possibilidades, tipos e formas de bordado e perceber o que mais gosta e lhe inspira. Seguir e acompanhar bordadeiras que possam inspirar não só através do trabalho, mas das referências, modo de ver a Arte, etc.
Crédito de imagens: @entrelinhascariri